sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Afterlife

Leia ouvindo


Como todos os dias de manhã, levantou. Tomou banho, comeu alguma coisa e pegou o ônibus para o trabalho.
Nunca pegou o mais rápido, porque ele vai por atalhos. O mais longo é mais bonito, tem a vantagem de se ver o mar durante todo o trajeto e, em geral, é nessa hora que ela pensa que vale a pena levantar.


... Até que um dia deu por si já em frente ao trabalho. Abriu a porta, sorriu para o porteiro e chamou o elevador... Quando foi que deixou de usar as escadas?

Ao fim do dia, recebeu a ligação do namorado, trocou duas palavras e desligou dizendo 'eu te amo'. Só ao guardar o telefone na bolsa é que percebeu o quão automática foi a sua resposta.

No meio do caminho para o ponto de ônibus, parou. Olhou para dentro da academia e viu uma jovem suando, correndo. Há quanto tempo ela não corria? Não lutava, ou nadava? Há quantos dias passava pelo mar desapercebida, para quantas pessoas deixou de dizer olá?

No ponto da beira-mar, deixou sua condução passar. Atravessou a rua e pegou um táxi para a direção oposta. Tirou o salto para pisar na areia e, mesmo de terninho, foi molhar os pés nas águas geladas do sul da ilha.

Ligou para o namorado e ouviu as mesmas três palavras de antes. Terminou.

Mergulhou de roupa e, ao sair da praia, parou em um bar para comprar uma cerveja.
Sentiu-se viva.

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