quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre uma nova necessidade

Toparia hoje uma balada de última hora. Lugar escuro, propício para dançar sem ser vista. Som alto, perfeito pra não pensar. E faria tudo sozinha. Nenhuma alma viva naquele ambiente a não ser eu e a música.
E não importaria que mais pessoas estivessem lá. Na minha cabeça, eu estaria sozinha. E dançaria sem jeito, e seria sexy, e pularia, e gritaria, e sorriria. E quando todas as emoções explodissem, choraria se sentisse vontade. E secaria as lágrimas e começaria do começo.
Balançaria o cabelo molhado para os lados e faria caras e bocas encarando o globo de luz, no teto. Gritaria, com força total dos pulmões as letras das minhas músicas preferidas.
Beberia wisky e energético até parar de sentir os pés e o nariz, usaria salto e bico fino, maquiagem carregada e  blusa sexy.
...E respiraria. Bem fundo. E saberia exatamente o que fazer a seguir.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Contando uma mera existência

Entrei em pânico às 4h da tarde de um dia de sol, por perceber a grandeza da minha inutlidade. E se alguém contestar, tenho argumentos para uma discussão: Vivo robotizada e isso não há como negar. Não sinto, não penso e durmo apenas para carregar as baterias.

E naquele dia, às 4h da tarde, me peguei pensando no que farei em alguns anos. Não terei mais a faculdade e, portanto, não ocuparei mais as minhas noites com textos e livros. Serei daquelas que dorme cedo, logo depois da novela. E sim, serei daquelas que vê novela.

No dia seguinte, pela manhã, tomarei café com leite e adoçante na lanchonete da esquina, porque não tenho tempo (sic!) de ter o desjejum em casa. E para comer, um pão de queijo. Durante o dia, farei meu trabalho roboticamente, digitando informações de uma maneira que faça sentido e fique legível, enviarei e-mails, atenderei telefones.

No fim da tarde, passarei em frente à academia, me culpando um pouco por matar mais um dia e prometendo a mim mesma que "amanhã eu venho", mas nunca vou. Tomarei um banho, colocarei o pijama e comerei bolachas salgadas enquanto vejo o Jornal Nacional, esperando pela novela.

E ao final da semana, sem dinheiro para gastar e sem ter mais o apoio financeiro dos meus pais, ficarei em casa, na janela, vendo a vida passar.
 
Pânico. Simples assim, descritível em uma única palavra, foi isso o que senti. E senti na sala de aula, sentanda e impaciente, que eu não tenho futuro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Since you've been gone

É tarde. O relógio marca 3:25 da manhã e eu não tenho sono algum, então levanto e abro a janela. O ar frio da madrugada é quase nostálgico, não fosse pela poluição sonora que me traz de volta à realidade. E é isso...

Desde que você se foi, meu sono é perturbado. Nas poucas noites em que consigo dormir, estou sempre virada para o lado esquerdo, de frente para a parede branca do meu quarto. E desde a última vez que dormimos juntos, tento substituir teu calor com uma quantidade exagerada de cobertores, que não surte efeito nenhum exceto por me fazer sentir calor e acordar de madrugada, descoberta e com frio.

Tenho demorado mais no banho, desde o nosso fim. Oscilo entre dietas rigorosas e gulas extremistas com maior frequência e intensidade do que costumava fazer, mas estou bem apesar de tudo. Não tenho lembranças da última vez em que me dediquei tanto à faculdade, aos livros e aos filmes. Vou ao cinema a cada 15 dias e já conheço as músicas que tocam em baladas. Durante o semestre eu li, em média, um livro acadêmico por semana.

Descubro novas músicas e cantoras que compartilho com a lista de contatos do msn e lamento a ausência de amigos durante as férias. Converso um pouco de mim com cada novo(a) amigo(a) que fiz e sorrio para estranhos com maior facilidade, desde que terminamos. Voltei a usar o mesmo perfume de antes de você e a ouvir Eric Clapton no som do carro, todos os dias.

... E nas noites de inverno, antes de me jogar na cama para tentar dormir, tomo um achocolatado quente, vestindo pijama. E é isso o que tenho feito desde que paramos de nos ver. Ainda sinto, a contragosto, a tua falta, mas acho que posso dizer que estou feliz. E espero que esteja também - de todo meu coração.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se tiver que acontecer de novo

Se eu tiver que me apaixonar de novo, terá que ser por alguém que saiba dançar; alguém que saiba cantar; que seja bom em matemática e que goste de abraços tanto quanto todo o resto.
Se eu tiver que me apaixonar de novo, terá que ser por alguém que sorria silenciosamente; alguém que se importe, só um pouco, com o cabelo e que tenha um senso de humor parecido com o meu.
Se eu tiver que me apaixonar de novo, terá que ser por alguém que me retribua e que fale quando é necessário; alguém que inspire profundamente quando me abraça e que saiba como usar as mãos.


Mas só se tiver que acontecer...
Se não, não vai.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Big Brother da vida real

Mal amanhecia o dia, tocava o despertador. Lívia levantava sonolenta, no automático. Não se importava em colocar uma roupa, já que tomaria banho depois e, por cinco minutos, alongava todos os músculos do seu corpo. Dobrava as cobertas, estendia o lençol, arrumava os travesseiros de maneira que ficassem bonitos sobre a cama.

No chuveiro, tomava banho de janela aberta. A ducha era seu momento relaxante do dia. Sempre foi assim, sempre gostou da água quentinha tocando sua pele arrepiada por conta dos minutos semi-nua que passava antes do banho. De volta ao seu quarto, Lívia escolhia a roupa do dia, passava creme no corpo e se arrumava. Todas as manhãs, sua rotina era igual. 

No desjejum, tomava meio copo de iogurte e comia uma única fatia de pão integral com margarina light. Comia em frente à TV, assistindo ao Bom dia Brasil. Era o único momento do dia que tinha para se informar e fazia questão de acordar mais cedo, só para assistí-lo. Antes de sair, Lívia fechava todas as janelas.

Durante o dia, as coisas seguiam um curso normal. Ônibus lotado em direção ao centro, ela sentia que era sorte quando conseguia sentar e abrir seu livro. No trabalho, a correria era sempre a mesma. O telefone não parava de tocar, os emails não paravam de chegar e a lista de afazeres não parava de crescer. Mas os 10 minutos para o seu café, eram sagrados. Todas as tardes, as 16h, Lívia parava tudo. Ia ao banheiro, lavava bem o rosto e as mãos e seguia em direção à cozinha. Preparava um café forte e abria uma barra de cereais para acompanhar. Como um botão de desliga, o cheiro do café e a mastigação automática a acalmavam.

A noite, ia à academia. Não sabia bem porque, mas todos os dias marcava presença e malhava principalmente os glúteos. Não gostava do seu quadril e pernas finas, não estava 100% satisfeita com sua barriga, mas no geral seu corpo a agradava. Ao chegar em casa, tomava banho mais uma vez e adormecia lendo algum romance.

Lívia era extremamente previsível, até que um dia não foi. Fez tudo igual, mas ao final da tarde, caiu uma chuva tão calma e tão forte ao mesmo tempo que Lívia quis fazer algo diferente. Não foi grande coisa, mas pulou a academia e foi direto ao banho. Com a parte de cima do pijama e com uma calcinha de bichinhos, ela não leu naquela noite. Em vez disso, ficou olhando a chuva cair pela janela.

De repente, viu um vulto. Procurou por alguma coisa confusa, mas não viu nada de mais. Olhou o céu. Chovia, mas as nuvens tinham texturas diferentes e pintavam o céu com tons de cinza... Um novo vulto, mas dessa vez ela conseguiu identificá-lo. O vizinho do prédio ao lado, do andar acima a observava escondido atrás de um pilar. “Ótimo”, pensou. “E eu aqui, só de calcinha”.

Demorou um pouco até que Lívia se tocasse que realmente estava só de calcinha e que estava sendo observada. Com o instinto de quem é tímido, ficou perdida e fechou a janela. Não gostou da sensação de ser vigiada e convenceu-se a dormir. No dia seguinte, fez quase tudo igual. Lavou roupa e, de pijama e shortinho curto, a estendeu na sacada quando, mais uma vez, notou que alguém a espreitava.

“Há quanto tempo?”, perguntou a si mesma. Começou a lembrar, uma por uma, de todas as vezes em que deitou nua na cama depois de uma noite difícil na academia e um banho quente. Pensou em todas as vezes em que se tocou, em todos os alongamentos das suas manhãs, em todo o tempo que passava nua, em frente à janela, escolhendo a roupa que usaria no dia. 

Ponderou sobre o quanto seu vizinho sabia de sua vida e esperou, pacientemente, que ele aparecesse na janela, novamente. “Talvez seja uma nóia minha”, pensou. Mas eis que aquela careca ressurgiu e se escondeu atrás do pilar por mais três vezes antes dela resolver ir dormir.

“Há quanto tempo?”. E agora Lívia estuda uma nova rotina. Uma que não envolva janelas abertas.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

One night stand

No dia seguinte é que foi tenso. Levantei com o lençol enrolado no corpo - instinto de quem é tímido - e caminhei, pé por pé, em direção ao banheiro. Dei-me o direito de demorar. A água que corria pelo corpo parecia levar embora a dor de cabeça e a ressaca. Passei creme nas pernas, sequei o cabelo e me maquiei. Voltei ao quarto, vesti-me com cuidado para não fazer barulho e o acordei.

Não disse nada, mas forcei um sorriso e ele entendeu o recado - Um 'levanta da minha cama' disfarçado de 'bom dia'. Mesmo tentado a curtir uma preguiça, o fato de estar em uma cama alheia o fez levantar rápido. Escondendo-se entre as cobertas, ele achou a cueca jogada no chão e a vestiu.

Tomamos café em silêncio e caminhamos juntos para o trabalho. O silêncio é, muito provavelmente, a pior parte de tudo. Você fica tentando entender o que diabos aconteceu, lembra de uns lances constrangedores, embora bons,  e sabe que ele está fazendo o mesmo. Só não sabe quais são os lances que ele está lembrando.

Chegamos. Para na porta, respira e prepara o sorriso. Entra e age como se nada tivesse acontecido e ele também. Não fosse pela sua amizade de todos os dias e pelo gelo que surgiu 'sem motivos', ninguém jamais perceberia.

Reunião na hora do almoço. Eu, o cliente e ele. Checo os emails esperando ver um 'cancelamento' nos assuntos, mas nada ali te chama a atenção, exceto um spam. Papéis arrumados, roupa alinhada, maquiagem retocada. Passa na mesa do colega, certifica-se de que está tudo bem e partem para a reunião/almoço.

Contrato fechado. Tudo iria bem, não fosse o comentário infeliz do mais novo cliente: "Nossa, vocês dois se entrosam direitinho, hein? Fiquei até sem argumentos pra negar o contrato" diz, bem-humorado. Você até fica vermelha, mas dá graças a deus que está maquiada e nem deve dar de perceber. Acompanha as risadas. Tudo friamente calculado.

No caminho de volta, seu colega comenta contigo o blush instantâneo que surgiu no seu rosto logo após o almoço. "E aí está ele de novo!", brinca. É a primeira vez do dia que você sorri sem pensar. E aí você para, pensa no assunto, sorri de novo e toca o cabelo. "Até que... não foi tão ruim assim", pensa. E disfarça o blush instantâneo que insiste em ressurgir.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Almoço de domingo

Canelas e pés inchados, algumas varises estouradas e muita dor, sorriso na boca e disposição infinita. Geni está preparando o almoço de domingo. A casa está cheia - 20 pessoas, no mínimo - mas ainda faltam mais três ou quatro. "Tudo bem, não tem problema".

No fogão de seis bocas, seis panelas diferentes. Arroz, feijão, macarrão, carne de gado na panela de pressão, polenta e carne de porco. No fogão à lenha, quirera e duas chaleiras esquentando água. Na geladeira, quase sem espaço, um bolo de amendoim "feito assim, no improviso, só porque fiquei sabendo que você vinha", diz ela.

Todo mundo ali, começa a comilança. A mesa, pequena, não tem espaço para todo mundo. Dolly, a cachorra, cheira todos os pés e encara todos os pratos. O sofá, singelo, está lotado, também. Geni não se senta. Faz um sanduíche com pão francês, beterraba e cebola e se delicia. Nunca vi ninguém gostar de alguma coisa assim, mas ela sorri. Os olhos, marcados pelas expressões, buscam atentamente todos os copos, todos pratos, para ter certeza de que tudo está em ordem.

O acúmulo dos pratos ao fim do almoço e o descaso de todas as visitas não a aborrecem. Geni separa, pacientemente, todo o resto de comida e o divide entre Dolly e os cachorros dos vizinhos. Alguém se prontifica a lavar a louça. Outra pessoa começa a secar. As chaleiras de água são esvaziadas. Duas garrafas de café e o bolinho improvisado para 25 pessoas. Todas recebem prato, garfinho e uma xícara de café enquanto as pessoas conversam e combinam o jantar.

A mesa ganha, agora, outra toalha e outro tipo de função. Geni busca o baralho, o caderno e a caneta entonando canções de igreja. A família toda joga, aposta, grita, perde dinheiro. Geni não joga. Só assiste, dá risada. Recolhe a louça, passa a pasta e a lixa no fogão à lenha. Usa bombril no fogão de seis bocas e organiza a casa toda.

16h, mais um cafezinho. 20h, Jeni liga o forno. 21h, o jantar está na mesa. A novela toda se repete: Canelas e pés inchados, algumas varises estouradas e muita dor, sorriso na boca e disposição infinita.

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