segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ensaiando a liberdade

Hoje está me fazendo bem relembrar velhos amores.
Tirei férias de você, do seu jeito paternalista e dos seus cuidados. Te mandei pra longe e fiquei parada, olhando você se afastar. Não sei bem por que razão eu fiz isso, mas me pareceu tão certo que o fiz. E disse 'tchau' sem sentir culpa, tristeza ou qualquer coisa que sinto quando me despeço.
Disse a mim mesma que era porque eu sabia que veria seu rosto novamente em breve, mas sejamos francos: eu precisava de férias. Você nunca entendeu que eu acho saudável sentir saudades e que gosto de separar os nossos espaços. Nem nunca entendeu que tento te agradar de mais. Lentamente cresce em mim o medo de que você não me mude em nada, mas que eu acabe mudando por você. Antes de ti eu me conhecia, agora eu já não sei.
Não entenda mal esse nosso tempo sozinho. Eu só preciso ter certeza de que ainda existo sem você. Por isso hoje está me fazendo bem relembrar velhos amores, mas não só eles. Também me faz bem lembrar velhos rancores, traumas, feridas profundas cujos pontos arrebentam de vez em quando... São todas marcas minhas. Elas podem não ser belas, mas me fizeram quem eu sou. E eu acho natural ter que passar tempo com elas, com todas essas marcas, cicatrizes, esses defeitos meus.
De vez em quando  preciso me encontrar com o resto de mim para mantê-lo intacto e talvez recuperar os pedaços do que eu era que se perderam no caminho.
Pode parece que não, mas aos meus olhos você é tão perfeito que dói. Dói ver em você o que eu queria ser, a certeza que queria ter, a autoconfiança que me falta, a determinação que admiro... Dói tanto que as vezes eu quero te evitar só para ver se te abalo nem que seja um único fio de cabelo. E então, quem sabe assim, fazendo tudo isso, eu volto a ser aquela por quem você se apaixonou, não é mesmo? Porque, querido, eu sei que eu mudei. E sei que você não está satisfeito.

3 comentários:

  1. Para mim, o mais interessante, e que até me emociona às vezes (como agora), é que você fala sem aquele ar de mulherzinha, de forma que qualquer um, como eu, possa ler e querer roubar o texto quase inteiro para si (se eu for citar o que gostei, vou colar o texto inteiro), sem contar que você estrutura muito melhor do que eu, não é aquela explosão desordenada que eu costumo fazer, e eu não me perco nos seus textos, mesmo quando ele fala de coisas que doem.

    Sério: de tudo que já li aqui, esse é de longe o meu favorito. :)

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  2. Comigo aconteceu algo muito parecido. Não exatamente assim, mas muito, muito parecido.

    "Dói tanto que as vezes eu quero te evitar para ver se te abalo nem que seja um único fio de cabelo." Ah, nossa! Isso é tão meu que dá até um aperto.

    Adorei!

    Eu mudaria o finalzinho, mas só por causa das experiências pessoais. Eu não quero voltar a ser aquela por quem ele se apaixonou, acredite, não mesmo.

    Muito bom o texto. Gostei muito, muito mesmo.

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  3. "Eu só preciso ter certeza de que ainda existo sem você."

    Adorei seus textos de fossa, Camila. Mas esse é, sem dúvida, o meu tipo preferido de texto, então sou suspeita para falar.

    O modo como você usa frases de efeito tão universais, tocando a emoção de uma maneira racional, me draga pra dentro da crônica. Mesmo que ainda tenha algo a melhorar, você já faz parte da minha coleção de cronistas com estrelinha.

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